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  • janeiro 21, 2015
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Entrevista com Luis Carlos de Alencar sobre Bombadeira

FONTE: http://www.emdiacomacidadania.com.br/noticias/papo-luis-carlos-de-alencar-diretor-de-bombadeira-a-dor-da-beleza

Cartaz_final (1)

O que te levou a realizar um filme abordando o contexto desse segmento tão discriminado e rejeitado?

L.A.Apesar de estar sendo graduado em Direito, eu sempre tentava inserir a linguagem audiovisual como intervenção em nossas ações junto aos movimentos sociais de Salvador-BA. Em dado momento, trabalhei numa instituição onde um dos grupos sociais com que atuávamos era o das travestis e transexuais, negras e de baixa renda. Foram cerca de dois anos de convivência diária com sua realidade. Violência policial, extorsão, preconceito, falta de acesso à Saúde e Justiça, eram problemas recorrentes. As situações mais cotidianas, porém, me chamaram mais atenção: religião, linguagem, afetos, amores e brigas, família e, sobretudo, a relação que elas tinham com o corpo. O filme deriva disso: a necessidade de deixá-las falar sobre algo que comumente ainda é visto como grotesco, desnecessário, exagero, loucura e tudo o mais. eu mesmo não entendia tanto a importância do corpo para a construção delas diante do mundo e das pessoas. e, evidentemente, o papel que o corpo assume na elaboração de si para si mesmas. esses dois motivos, enfim, foram fundamentais para a realização do filme: produzir visibilidades sobre o cotidiano de um grupo de travestis/transexuais e abordar a importância do corpo como elemento formador de subjetividades.

Quais os resultados desse trabalho no seu campo pessoal e profissional?

L.A.As diversas situações um tanto complicadas por que passamos (a equipe), seja na escassez de recurso que dispúnhamos, no processo de aproximação com as travestis e transexuais, e principalmente, no acesso aos locais em que moravam, acabou por integrar um experiência ímpar nas pessoas envolvidas diante dessas situações adversas. Mas, acredito eu, para o resto da equipe o mais relevante foi pela primeira vez lidar, conversar, entrar na casa, passar um dia, bater um papo com travestis e transexuais que falavam sobre questões muito íntimas, sonhos, desejos, desamores, maridos, afirmando simplesmente sua qualidade de pessoa. em muitos que trabalharam no “Bombadeira” havia uma percepção sobre elas destituídas de humanidade, distanciadas, presas aos papéis tradicionais da prostituição, da marginalidade e por aí vai. o contato durante o processo de realização atingiu a todos nós inegavelmente. em mim, confesso, houve ainda outras consequências: há tempos eu tb possuia um desejo de, em algum nível, modificar meu corpo. por diversos motivos, queria fazer uma intervenção corporal. foi a partir do filme, isto é, do contato com elas e da coragem diante desse assunto que enfim consegui tomar uma iniciativa. é claro que são modifições corporais distintas, com implicações subjetivas e socias diferenciadas, já que não me interessava por um corpo feminino; mas que se encontram na motivação de se considerar o seu corpo, para além de um meio, como um constrútor de sentidos de si perante o mundo em que vivemos. Hoje tenho uma prótese de silicone no meu antebraço esquerdo.

O filme vai entrar em circuito normal, como vai ser distribuído?

L.A.Vai para festivais e mostras de audiovisual. Previmos distribuição gratuita para entidades da sociedade civil e poderes públicos que se interessem pelo tema, bibliotecas e universidades públicas do país e escolas públicas secundárias do Estado da Bahia.

E já está inscrito ou classificado para alguma mostra?

L.A.as inscrições em festivais e mostras ocorrerão a partir do segundo semestre, mas já participamos da seleção oficial de melhor longa documentário do Festival de Cinema de Países de Língua Portuguesa – CINEPORT.

Você falou em liberar o filme depois de 2009. Vai pro Creative Commons?

L.A.Isso mesmo. O filme será liberado para reprodução pelo sistema de creative commons, a partir de 2010. Acreditamos que a obra é de interesse público e não deve ficar restrita ao caráter dos direitos autorais.

OK, que você está no lançamento deste trabalho, mas já tem alguma outra coisa na agulha?

L.A. Como próximos trabalhos, estou na pré-produção de dois documentários: o entorno do sistema prisional no Rio de Janeiro e grupos de extermínio em Salvador. Sobre isso conversaremos mais adiante

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