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  • Genocidio

Genocídio Racial (nome provisório):

Longa com direção de Luis Carlos de Alencar em pós produção.

- Justificativa

A política de genocídio racial vem se intensificando. Dados do Mapa da Violência 2012 mostram que em 2002, morreram proporcionalmente 45,8% mais negros do que brancos. Em 2006, esse índice pula para 82,7%.  Já em 2010, o índice dobra. Morrem proporcionalmente 139% mais negros que brancos. Nesse mesmo período a taxa de homicídio de brancos caiu de 20,6 para 15,0 em cada 100 mil brancos. Já na população negra, as taxas passaram de 30,0 em 2002 para 35,9 homicídios para cada 100 mil negros em 2010, o que representa um aumento de 19,6%.

Dados do SUS dão conta de que, em 2006 e 2007, 59.896 negros foram assassinados. O número de negros assassinados no Brasil é duas vezes maior do que o de brancos. Em 2010, o Indice de Vitimização Negra chegou a 289,2%, na Bahia.

O Auto de Resistência, instrumento utilizado à época da Ditadura Militar, é apontado como um dos maiores expedientes de extermínio de que se vale a polícia brasileira na atualidade. Nesse mesmo sentido, a CPI da Câmara dos Deputados, que investigou os grupos de extermínio no Nordeste em 2005, indicou que estes contam com a participação de policiais civis e militares, atuam de forma semelhante nas capitais e são resultado de políticas de segurança falidas e coniventes. Especificamente, a Bahia nos últimos 10 anos, segundo dados da ONU, aumentou em 212% o número de vítimas de grupos de extermínio, contra 41% e 39% no Rio de Janeiro e São Paulo. Organizações sociais identificam a existência de mais de 80 grupos em ação no Estado. Salvador é a quarta capital em crimes de extermínio no Brasil. A ação de grupos de extermínio formados por agentes públicos ou com a tolerância destes atuam nas cidades brasileiras elegendo como alvo preferencial a juventude negra. Dos 706 assassinados em Salvador, no ano de 2004, segundo pesquisa do Fórum Comunitário de Combate à Violência, 699 eram negros. O Fórum realizou ainda estudos entre os anos de 1998 e 2004, onde concluiu: dentre as 6308 pessoas assassinadas no período, 92,7% eram negras. A disparidade racial é notória, dado que a composição de afrodescendentes da população soteropolitana é de 85%. O projeto pretende apontar e debater o racismo, as políticas de segurança pública e a ação de grupos de extermínio, e suas convergências contra a população negra.

- Resumo do Roteiro

Um grupo de artistas do Rio de Janeiro realizará um solo performático, onde abordará a premissa de que o Estado através de seu sistema penal (polícia e sistema prisional) tem o corpo negro como alvo preferencial. O documentário acompanhará sua incursão à Salvador, capital da Bahia, símbolo de negritude no imaginário nacional, onde o flagrante cenário de violência, com mais de 4000 mortes anuais, é considerado por alguns como extermínio sistemático da juventude negra. A pesquisa alcançou pessoas-chave para se entender o problema e transformá-lo em elementos da performance: defensores de direitos humanos; familiares e amigos de vítimas da violência policial; detentos e ex-detentos; policiais militares e civis; parlamentares; movimentos sociais e ONGs; Secretários de Governo; Governador da Bahia;  pesquisadores e especialistas no tema. Visitou-se a penitenciária Lemos de Brito, o Instituto Médico Legal, cemitérios clandestinos de desova de grupos de extermínio e acompanhou-se operações policiais em bairros pobres. Essa fase de pesquisa artística visou entender como o imbricamento entre o racismo, as políticas de segurança e a ação dos grupos de extermínio colaboram para o crescimento de assassinatos da população negra e pobre.

As filmagens descritas acima já foram realizadas. Ao lado disso, o documentário registrou todo o processo de construção da performance, envolvendo as discussões internas, seus exercícios corporais, experimentações, discordancias, até o amadurecimento do tema, do cenário, figurino, trilha, iluminação, conversa com outros diretores teatrais, dançarinos, atores, roteiristas, equipe técnica, que atuaram para a concepção, elaboração e execução do solo performático. Por fim, algumas apresentações prévias da performance constam no documentário, de modo a trazer também o resultado final e a recepção e reação do público.

Em sua ida a Salvador, abordou-se a violência, em especial, o genocídio racial perpetrado, incitado e consentido pelo Estado baiano para com indivíduos da raça negra, através da vocação do sistema penal no controle da negritude. Como sistema penal enfocado pelo projeto, entenderam-se as atividades policiais e o sistema carcerário, a relação que estabelece com pessoas do segmento negro e de que modo sua atuação contribui para o genocídio racial. Dessa forma, foram trabalhadas determinadas questões como:

1.      quais mecanismos do sistema penal garantem e como se expressam as práticas de extermínio na Bahia?;
2.      o genocídio é só realizado pelo sistema penal ou por outras atuações-omissões institucionais?;
3.      como essa política institucional se relaciona com o imaginário da cordialidade da democracia racial?;
4.      o racismo é realmente o que move, sustenta e orienta essa política de extermínio? Onde está o racismo, qual é a sua importância para a observação do empobrecimento e assassínio massivo, acentuado em todo o decorrer do século XX?

Algumas das ponderações delineadas pelo filme, na verificação da política de extermínio:

•       A presença de grupos organizados de extermínio de atuação regular em determinadas áreas urbanas de Salvador, com a participação de agentes públicos.
•       A prática de extermínio no exercício da atividade policial e no interior do sistema carcerário
•       A disseminação da cultura do extermínio, pautada mais por interesses privados pontuais na vitimização de pessoa ou grupo social, com a participação também pontual de agente público, sem a caracterização de regularidade ou de territorialidade
•       A racialização da suspeição generalizada, como fator substantivo na verificação das 3 modalidades anteriormente apontadas.

O projeto Genocídio Negro - a necropolítica do Estado Brasileiro retornou à cidade de Salvador, na festa de carnaval do ano de 2009, com o objetivo de investigar o contexto proposto em época apontada como a de maior intensidade de práticas violentas e racistas na atuação do sistema penal – sobretudo pela ação policial, por se tratar de momento de reiterado e prolongado encontro entre os diversos grupos sociais e raciais oriundos de Salvador e de outras cidades do país. Contexto esse em que se observou de que modo o Estado baiano articula a imagem de democracia racial e de valorização da cultura afro-descendente, com a atuação de seu aparato penal frente ao segmento negro de Salvador.

Em sua narrativa, o documentário Genocídio Negro - a necropolítica do Estado Brasileiro irá trazer as reflexões, experimentações, os dilemas, o processo de criação de um grupo teatral na construção de seu espetáculo, trazendo como pano de fundo  um debate político-estético acerca da realidade brasileira, seu racismo e o contexto de violencia que assola o país.

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